LETRAMENTOS DE REEXISTÊNCIA: POESIA, GRAFITE, MÚSICA, DANÇA: HIP-HOP
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Entre as muitas inovações que o mundo contemporâneo pôde – para o bem ou para o mal – oferecer à ciência, figuram com singular produtividade os estudos acerca da cultura popular, que, cada vez mais, adquirem uma até então improvável aura de pesquisa acadêmica. E o estudo – em muitos sentidos, exemplar – de Ana Lúcia Souza (Letramento da Reexistência. Poesia, Grafite, Música, Dança: Hip-Hop. São Paulo, Parábola, 2011) só vem confirmar essa assertiva... A autora começa lembrando que o termo hip-hop se refere a um “movimento social juvenil urbano enraizado no segmento populacional de baixo poder aquisitivo, a maioria negra e jovem” (p. 15), que ganha força, primeiro, nos Estados Unidos a partir da década de 1970, espalhando-se, em seguida, para outras partes do mundo, inclusive o Brasil. Marcado, sobretudo, pela “reflexão e crítica que faz em relação às desigualdades sociais e raciais” (p. 15), utiliza-se dos gestos, escritas, imagens etc., apoiando-se em quatro figuras artísticas: o/a mestre/a de cerimônia (MC), o/a disc-jóquei (DJ), o/a dançarino/a (b.boy/b.girl) e o/a grafiteiro/a. Sua face mais expressiva, contudo, encontra-se no rap, poesia cantada que nasce a partir da junção do MC e do DJ. Além disso, o hip-hop revela-se como um espaço de uso social da linguagem, envolvendo, portanto, práticas de letramento. O objetivo do livro, portanto, é estudar como se dão essas práticas de letramento no meio cultural do hip-hop e como se configuram as identidades sociais de seus agentes, na periferia de São Paulo, pesquisa feita tanto por meio de rodas de conversa (questionários, entrevistas coletivas etc.), quanto por meio de escritas autobiográficas e outros modos de apreensão da realidade observada. Apoiando-se nos estudos sobre os letramentos múltiplos e heterogêneos – que atribuem uma perspectiva sociocultural às práticas de letramento –, aliados às contribuições dos estudos culturais e da visão bakhtiniana da linguagem, a autora observa que tais perspectivas se expressam tanto nos meios escolarizados como em processos de espaços de aprendizagem em distintas esferas, além do fato de o hip-hop recombinar, sem hierarquizar, os multiletramentos, reinventando os usos sociais da linguagem. É o que Ana Lúcia Souza chama de letramentos de reexistência: