REPRESENTAÇÕES SÓCIO-RELIGIOSAS DO TRABALHO DOMÉSTICO: UMA LEITURA DE GÊNERO ENTRE BATISTAS NA CIDADE DE SÃO PAULO

Os movimentos de contestacao social que tiveram lugar nos anos 60 trouxeram novas perspectivas para as mulheres, verificando-se crescente insercao destas no mercado de trabalho. No entanto, a persistencia do trabalho domestico sob responsabilidade dominante das mulheres, mesmo nesse contexto em que os indices de participacao feminina no mercado de trabalho se elevam, tem chamado a atencao para os constrangimentos de ordem subjetiva e socio-cultural como elementos decisivos dentre os que cooperam para a manutencao desse quadro. Ou seja, a desigualdade persiste em face da persistencia de hierarquias de genero que continuam a delimitar o lugar das mulheres e que encontram nas religioes o seu locus privilegiado de producao e reproducao. E no contexto da economia simbolica batista, em que as representacoes tradicionais do homem como cabeca e da mulher como auxiliadora significam o homem como provedor e a mulher como esposa e mae, responsavel pelos afazeres domesticos, que abordamos aqui a problematica da divisao sexual do trabalho, enquanto e a partir da representacao e pratica de sujeitos religiosos batistas paulistanos. Ao mesmo tempo em que o discurso religioso batista afirma e ratifica a divisao sexual do trabalho, esta sujeito as solicitacoes sociais por mudancas nas relacoes de genero, favorecendo a mobilizacao de doutrinas religiosas igualitarias presentes entre os batistas. E, portanto, numa perspectiva dinâmica de tensoes entre os avancos e permanencias nas praticas de genero ao nivel da sociedade mais ampla, e que se colocam tanto a partir dos valores culturais desta, quanto a partir das condicoes materiais e estruturais encontradas ai, e de tensoes entre o processo de secularizacao e compromisso etico que as representacoes e praticas de genero entre os batistas pesquisados permanecem enquanto se transformam e avancam enquanto se mantem.