Tropical Medicine and Public Health in Latin America

O interesse pela história da medicina tropical tem crescido muito, em virtude de numerosas injunções políticas e acadêmicas. O imperialismo, por exemplo, voltou a ser objeto de estudos acadêmicos, levando-nos a indagar sobre a importância que os impérios tiveram para a ciência e a medicina, e vice-versa, seguido do estímulo fornecido pelos estudos sobre o período póscolonial, dos quais derivam questões acerca do papel crítico desempenhado pelas colônias na constituição ou genealogia da ciência e medicina nos centros metropolitanos. Problemas contemporâneos também contribuem para o crescente interesse pela história da medicina tropical. A persistência de doenças como a malária, o retorno de 'antigas' doenças, outrora consideradas quase vencidas, como o cólera, assim como o surgimento de novas enfermidades letais, como a causada pelo vírus Ebola, levam-nos a investigar a geografia e economia política das doenças, bem como os estilos que a medicina tropical ganhou nesses diversos cenários. O cólera e a malária já foram, é claro, doenças comuns na Europa, mas, no início do século XX, tinham sido requalificaclas como essencialmente "tropicais". Tal redefinição nos leva a indagar: em que consiste a tropicaliclade das doenças tropicais? Com efeito, o termo 'tropical' não diz respeito apenas à geografia, mas inclui a idéia de que climas quentes e úmidos abrigam diferenças essenciais no tocante a lugares, povos e doenças. A medicina e a saúde pública latinoamericanas encaixam-se com bastante naturalidade nesta concepção difusa cie medicina tropical. Apesar disso, os estudos sobre a América Latina guardam certa autonomia em relação aos demais estudos sobre medicina tropical. Uma das razões disso é a relativa clefasagem entre o arcabouço colonial e a América Latina. De fato, para muitos historiadores da medicina, medicina tropical é medicina colonial. Embora o conceito de império informal seja encampado pelos estudos latino-americanos, o contexto colonial derivado cie estudos sobre a índia e a África adequa-se mal aos países independentes cia região nos séculos XEX e XX. A medicina do Brasil, por exemplo, continuou a sofrer influência de Portugal após a transferência da Corte de Lisboa para o Rio de Janeiro em 1808. Mas após a independência brasileira, em 1822, a França passou a desempenhar papel muito mais influente na medicina e saúde pública, seguida, em certa medida, pela Alemanha, mais para o fim cios oitocentos, e pelos Estados Unidos, já no século XX. Houve, portanto, centros de referência múltiplos e variáveis. Desde os primeiros anos de independência política e, sobretudo, após 1840, quando as revoltas regionais deixaram de ameaçar e a nação começou a se consolidar sob a autoridade de d. Pedro II, os médicos no Brasil procuraram Sidney Chalhoub Cidade febril: cortiços epidemias nu corte imperial São Paulo, Companhia das Letras, 1996, 250 p