Na segunda metade do séc. XIII, cerca de 1270, é redigido em Portugal o primeiro texto de um género que viria a ter no Ocidente peninsular uma extraordinária fortuna, não só durante a Idade Média, mas também ao longo dos séculos seguintes até bem perto dos nosso dias. Referimo-nos aos livros de linhagens, sendo o Livro Velho de Linhagens (LV) o seu primeiro representante actualmente conhecido. Trata-se de um texto escrito em língua vulgar que procura fixar a memória de grupos de parentesco com uma existência então mais do que secular, seguramente anterior à formação do reino de Portugal. Se o LV não apresenta, no uso da língua vulgar do Ocidente peninsular ‒ o galegoportuguês ‒ uma novidade radical, tendo em atenção que esta língua se praticava desde os últimos anos do século anterior na poesia trovadoresca, o mesmo não se pode afirmar quanto à sua modalidade de escrita e ao conteúdo que encerra. Na intenção de registar de alguma forma os tempos passados, o LV aparentava-se com a historiografia ou com o registo analístico, embora dificilmente estes dois géneros possam ter servido de modelo para a sua redacção. Se é verdade que em meio português se continuavam a redigir anais, tal actividade era modesta e de pouco significado. Pelo seu lado, as