Efeitos agudos da administração de pressão positiva contínua em vias aéreas de modo não invasivo sobre o parênquima pulmonar de voluntários sadios nas posições supina e prona: alterações na tomografia computadorizada de alta resolução

Introducao: A ventilacao nao invasiva com pressao positiva (VNI) vem tendo uma crescente utilidade na pratica clinica e o seu uso esta bem estabelecido em casos de edema agudo de pulmao e nas exacerbacoes da doenca pulmonar obstrutiva cronica (DPOC), diminuindo a necessidade de intubacao orotraqueal e melhorando a sobrevida. Alem disso, a pressao positiva continua em vias aereas (CPAP) – modo de VNI – constitui o tratamento de escolha para pacientes portadores da sindrome de apneia obstrutiva do sono (SAOS), onde geralmente nao ha alteracao no parenquima pulmonar. Ainda a aplicacao de niveis elevados de pressao positiva expiratoria final (PEEP) no manejo da sindrome do desconforto respiratorio agudo (SDRA) esta associada tanto ao recrutamento alveolar como a hiperdistensao de areas previamente normoaeradas, com resultados ainda indefinidos quanto ao impacto na sobrevida. Um dos recursos para melhora da oxigenacao nestes pacientes e a posicao prona e os efeitos da associacao desta manobra com pressao positiva permanecem controversos. A tomografia computadorizada de alta resolucao (TCAR) constitui um excelente metodo de imagem para avaliacao qualitativa e quantitativa do parenquima pulmonar. O emprego da TCAR pode auxiliar na investigacao dos efeitos da CPAP de modo nao invasivo sobre o parenquima pulmonar, contribuindo para a elucidacao dos efeitos fisiologicos da pressao positiva e da posicao prona. Objetivos: Avaliar e comparar os efeitos de diferentes niveis de CPAP de modo nao invasivo sobre o parenquima pulmonar em individuos sadios nas posicoes supina e prona. Casuistica e metodos: Estudo intervencionista com oito voluntarios sadios, sem doenca cardiopulmonar. Foram realizados cortes tomograficos de alta resolucao em tres regioes: apice (2 cm acima do arco aortico), hilo (1 cm abaixo da carina) e base (2 cm acima do diafragma) na posicao supina, sem CPAP (basal) e com CPAP de 5, 10 e 15 cmH2O; e na posicao prona, corte em base, sem CPAP e com CPAP de 10 cmH2O. A sequencia das posicoes e da ordem das pressoes aplicadas foi randomizada. Aguardava-se um periodo de no minimo 5 minutos apos completa adaptacao da mascara para realizacao do exame e o mesmo periodo de tempo entre um nivel de pressao e outro. Os dados foram analisados agrupando-se os cortes tomograficos das tres regioes e por subdivisoes em regioes ventral, medial e dorsal, sendo calculadas as medias das densidades pulmonares e o percentual do numero de unidades com densidade menor que -950 UH (hiperaeradas) para cada uma das regioes. Resultados: Nao houve diferenca das medias das densidades pulmonares entre apice, hilo e base para o mesmo nivel de pressao. Na posicao supina, houve reducao da densidade pulmonar e aumento do percentual de pixels nas areas hiperaeradas com niveis crescentes de pressao: basal -761 UH e 7,25%; CPAP 5: -780 UH e 8,57%; CPAP 10: -810 UH e 11,62%; CPAP 15: -828 UH e 14,65% (p < 0,05). O mesmo foi observado na posicao prona: basal -759 UH e 6,30%; CPAP 10: -803 UH e 9,94% (p < 0,05). Este aumento da aeracao tambem foi observado nas regioes ventral, medial e dorsal. Foi encontrado um gradiente crescente no sentido ventro-dorsal de densidades pulmonares na posicao supina e o inverso na posicao prona. A CPAP de 10 cmH2O, na posicao prona, ocasionou menor aumento do percentual de pixels nas areas hiperaeradas em relacao a supina. Nas regioes nao dependentes do pulmao (ventral em supina e dorsal em prona), observou-se um menor percentual de pixels nas areas hiperaeradas e aumento nas normoaeradas na posicao prona em relacao a supina, praticamente sem diferenca nas regioes dependentes. Conclusoes: A aplicacao de diferentes niveis de CPAP, de modo nao invasivo, em voluntarios sadios, resultou em maior aeracao com niveis crescentes de pressao e maior homogeneizacao da aeracao pulmonar, tanto na posicao supina como na prona. Houve menor hiperaeracao nas regioes nao dependentes na posicao prona, em relacao a supina, sem CPAP e com CPAP de 10 cmH2O, com melhor distribuicao da aeracao pulmonar naquela posicao.